quarta-feira, abril 03, 2013

"Vejo o sol tocando a ponta do para-raio da cruz."


Munganga da arenga


Na vastidão do rio mais seco
Na escuridão dos olhos cangaceiro
Nas pancadas da chuva do sertão
No meu primeiro trago
A santa chora pela vela
Desandou a prossição
Nordestino, fino e peão.
Todos ajoelhados ao chão.
Nossa história mal contada
Falada, velada e calada.
As gotas, da vela, queimam.
Os olhos das veredas arrepiam
Cigarro no dedo e carvão
Entope as veias do coração
Cachaça na encruzilhada, sede.
Seca pele do calcanhar rachado
Cobertor de palha e palma
Água da seca borrada de barro
Barreiras, sem cercas, invisíveis.
Catingueira retorcida de flores espinhos
A cascavel cochila com fome
Trovões que não encontram o chão
Terreiro, amarração e laço.
Xiquexique, panela e pilão.
A cigarra que canta desacorçoada
Inibida e empalhada
A melodia bizonha da um furo
É a fome que foge, pula o muro.

David Edison Julião Saragosa