segunda-feira, setembro 01, 2008

"Nova geração" "Um filme para nunca mais esquecer"


Átomos


A vida é como um laço perfeito.
Duas extremidades totalmente móveis.
Entre elas, o equilíbrio deve ser constante.
Afrouxa-se de um lado, se segura de outro.

Nestas extremidades observamos forças distintas.
Curiosamente, isto é que torna o equilíbrio possível.
Em uma extremidade, nós nos encontramos.
Em outra, estão vocês.

Uns chamam de amigos e parentes.
Porém, do lado oposto a nós, estão todos os outros.
Então uma grande guerra é traçada.
Onde, infelizmente, estamos sós.

O tempo é o grande divisor de águas.
E quem sabe lidar com ele tem uma grande vantagem.
Concluímos, hão de concordar, que neste caso a maioria vence.
E nunca houve ninguém, que eu conheço, que descorde disto.

Nós afrouxamos e puxamos nossa ponta mais do que imaginamos.
Senão, não estaríamos aqui ainda para ler este texto.
E não importa o tempo que cada um agüente firme em seu posto.
Para todos nós o tempo é o mesmo quando se chega ao mesmo lugar.

Há aqueles que quando todos puxavam, puxaram também.
Há aqueles que quando todos afrouxaram, afrouxaram também.
Mas há aqueles que afrouxaram achando que iriam afrouxar.
E quase todos o puxaram novamente.

O que devemos perceber é que para ficarmos aqui.
Não dependemos apenas de nós mesmos.
Cada um tem a sua ponta para segurar.
Embora inicialmente só houvesse duas.

Às vezes, puxar ou afrouxar não nos mantêm onde estamos.
Sempre dependemos das decisões alheias para tomarmos as nossas.
E nem sempre agimos como deveríamos e acabamos levando outros conosco.
Mas quem é que deve tomar o primeiro passo?

Aprendi, com meu pai, que se me baterem, vão levar.
Mas só agora que eu aprendi que nem sempre levarão o troco de mim.
Meu pai sabia muito sobre a vida e tudo mais que eu ainda nem sei.
Embora tenha deixado sua ponta de lado, nós continuamos a puxar nossa.

Espero, que antes de tomar a decisão errada quanto ao meu laço.
Eu ainda tenha tomado muitas e muitas decisões certas.
Pois meu maior receio não é saber que meu laço se desfez.
E sim, saber que tem alguém segurando a outra extremidade do mesmo laço.

David Edison Julião Saragosa

"Nova geração" "Amigo punk, escute este meu desabafo"

Um longo curto espaço de tempo


Eu vi pregos batendo firme nos martelos da minha mente.
Senti a semente comendo os frutos da minha inteligência.
Colei as partes quebradas da minha cabeça sobre meu pescoço.
Olhei-me no espelho e não vi mais nada além da minha infância.

Andei pelos buracos das ruas que passavam por mim.
Viajei nas asas das borboletas que ainda eram lagartas.
Trocava de pele como serpentes engoliam serpentes.
Bebia decisões, engolia rumos e degustava idéias.

Quando algo dava certo é que tudo estava torto.
Quando estava por cima é que tudo havia ido pelo ralo.
Eu fechava os portões e pulava os muros das oportunidades.
Eu vivia preso e sozinho do lado de fora das gaiolas.

Tinha amigos que ainda hoje moram aqui comigo.
Eu reclamava por não ter do que reclamar.
Eu vi os negros pichando de branco um patrimônio nacional.
E vi os brancos com caras pintadas de preto no dia da independência.

Eu demorava horas para contar as horas que passavam depressa.
Passava rápido pelo tempo lento que queria me atrasar.
Percebi que não havia relógio que pudesse parar o dia nem à noite.
Então puxava o tapete das sujeiras que me induziam a realizar.

Coloquei a mão nos relógios do tempo e brinquei como quis.
Agora não sei mais como organizar o que é presente, passado e futuro.
Não sei se ficarei mais velho, mais feio ou mais forte.
Só sei que mesmo não sabendo onde estou, ainda estou como quero.


David Edison Julião Saragosa