quarta-feira, abril 03, 2013

"Vejo o sol tocando a ponta do para-raio da cruz."


Munganga da arenga


Na vastidão do rio mais seco
Na escuridão dos olhos cangaceiro
Nas pancadas da chuva do sertão
No meu primeiro trago
A santa chora pela vela
Desandou a prossição
Nordestino, fino e peão.
Todos ajoelhados ao chão.
Nossa história mal contada
Falada, velada e calada.
As gotas, da vela, queimam.
Os olhos das veredas arrepiam
Cigarro no dedo e carvão
Entope as veias do coração
Cachaça na encruzilhada, sede.
Seca pele do calcanhar rachado
Cobertor de palha e palma
Água da seca borrada de barro
Barreiras, sem cercas, invisíveis.
Catingueira retorcida de flores espinhos
A cascavel cochila com fome
Trovões que não encontram o chão
Terreiro, amarração e laço.
Xiquexique, panela e pilão.
A cigarra que canta desacorçoada
Inibida e empalhada
A melodia bizonha da um furo
É a fome que foge, pula o muro.

David Edison Julião Saragosa

segunda-feira, agosto 27, 2012

"Os índios não dizem adeus, eles dizem até o outro sol"


Cantiga


Um som baixo na vitrola
Faz me ir pra algum lugar
Onde as nuvens são de pedra
E os pássaros vão pra lá.

Mas o caminho é longo
Sei que até vou me cansar
Mas nunca me perturbo
Esperando alguém passar.

Ouvindo uma cantiga
De passos devagar
Sei que vem como uma brisa
Que podem até clarear.

E me lembrando das promessas
Que fizemos ao sol nascer
Penso até em ir à sua festa
Mas não consigo comparecer.

São imagens tão profundas
Que ofuscam o meu presente
Sei que o tempo leva um tempo
Pra apagar o inconsciente.

Ouvindo uma cantiga
De passos devagar
Sei que vem como uma brisa
Que podem até clarear.

Sei de muitos passatempos
Para ver ser quem sou
O caminho se divide
E não sei mais pra onde vou.

O som que sai da vitrola
Parece querer me enganar
Sei que muitos te procuram
Felicidade onde está?

Ouvindo uma cantiga
De passos devagar
Sei que vem como uma brisa
Que podem até clarear.


David Edison Julião Saragosa

sexta-feira, julho 13, 2012

"Esta é a sua única vida, faça dela uma viajem total, cheia de poeira e sol."


Dia do rock


Rock, estado mental passivo de alucinações.
É uma energia pulsante dentro da veia.
Uma artéria descontrolada pronta pra explodir.
Um sentimento sincero de liberdade e nostalgia.

Muitas pessoas se contentam com muito pouco.
Uma camisa da bandinha da moda.
Uma letra na ponta da língua.
Uma tatuagem no braço que não incomoda.

O rock não é assim superficial.
Não é aquilo que se vê sem provar.
Não é uma moda que passa sem se ver.
É um calor, um frio e muito mais a se deliciar.

Viver para o rock é fácil.
Basta treino e vontade.
Viver de rock não.
É preciso primeiro conquistar a liberdade.

É um sentimento que se passa de pai para filho.
Sentir o rock é sentir seu corpo leve.
É acreditar que o rock muda as pessoas.
É sentir seu coração parar em um acorde breve.

Saber do que se trata está além da imaginação.
Alguns nasceram para flutuar nesta nuvem ascendente.
Uma nuvem de algodão e de trovões.
É algo que não acontece por acidente.

Enfim, ao rock eu dedico minhas ideias.
Minhas emoções.
Que um grito profundo e um acorde estridente.
Possa fazer vibrar nossos corações.


David Edison Julião Saragosa

quarta-feira, abril 04, 2012

"Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles."

Estado de temor


Não adianta querer mudar o rio

Se a nascente continua a mesma

E não importa o tempo que levar

As águas sempre vão chegar ao mar


Não adianta nascer na burguesia

Pois pra má índole não tem educação

Só aprimoram os desejos mais insanos

Que por ventura irão leva-lo ao chão.


Há um abutre faminto dentro de cada um

E não adianta mostrar espantalhos

Que acuados não nos lembramos de etiqueta

Pois para as cruzes que nascem no chão não há colheita.


Astaroth com seus dois pares de asas

E sua beleza descomunal

Pousa sobre a casa dos horrores

O mês de agosto chega mais uma vez


O príncipe retorna como haviam profetizado

Para ceifar mais uma vez as vidas impuras

Agora cada parte do meu corpo estremece

Parece ser este o fim que o velho me contara as escuras.


Será o dia da minha desencarnação

De um sacrifício e do fim das histórias

Quem poderá continuar relatando

O que aqui dentro estará acontecendo.


Digo por mim.

Orem por nós.



David Edison Julião Saragosa

sábado, março 24, 2012

"A Chave Menor de Salomão, é dividido em cinco partes..." Você sabe me dizer quais são?

Estado de desolação


Eu observei toda a noite passar
Ouvi os primeiros sons dos pássaros
Os últimos ruídos dos grilos
Desliguei as luzes que me iluminavam

Senti o aroma verde da manhã
Os raios quentes do nascer do sol
As últimas brisas frias da madrugada
E pude sentar ao seu lado para chorar

As noites sombrias da casa dos horrores
Não se comparam ao silencio doloroso
Nem à solidão que passei esta noite ao teu lado
Quiçá passa-la com os olhos fechados

Minha mão sobreposta a sua
Um gelado angustiante que aprecia meu tato
Sua face ainda doce, menos ávida.
Um pouco menos vermelha e um pouco mais cor de rosa

Um ritual cujo propósito eu não posso revelar
Um dever de todos os membros
Um único destino e vários caminhos
Uma dor que será passada adiante

Mal se foi e já sinto tanta saudade
Ainda posso vê-la e tocá-la
Mas esse sentimento será o último
Pois é nosso dever esquecer e enterrar

Halphas com sua voz marcante
Veio devorar o que meu coração sentia
Tal corvo que é por sentimentos e sentidos
Levou-me embora a felicidade e deixou afasia

Então dormirei sem afago, sem tumulto.
Quem sabe ao certo qual será meu sonho
Talvez uma fábula breve como a vida
Ou uma arriscada escapada da morte.


David Edison Julião Saragosa

quarta-feira, agosto 31, 2011

"As revistas, as revoltas, as conquistas da juventude. São heranças, são motivos pras mudanças de atitude...Hey mãe! Alguma coisa ficou pra trás..."


O cheiro das rosas



Ao anoitecer uma brisa suave invadiu meu quarto


Trazendo uma lembrança querida de muitos anos


Então sonhei com uma pessoa que há muito partira


E dentro deste sonho aprendi a enfeitar as palavras.



Quando acordei meu quarto estava frio


E um som, distante, de passos lentos, eu ouvi.


Fiquei parado imaginando quão grandioso seria


Um encontro inesperado de um amor do passado.



Ao abrir a porta de meu quarto


Avistei pela janela da sala uma moça


Vestida de rosa com laços frutuosos nas mãos


Que me olhava diretamente nos olhos com delicadeza



Aproximei-me, mas sua face não me trazia recordações.


Ao tentar tocar em seus laços, a moça distinta desapareceu.


Fiquei parado por alguns instantes pensando


Então chorei até a última lágrima do meu coração.



Quanto mais eu tentava recordar


Mais fracas ficavam minhas lembranças


Então quando tentei retornar ao meu estado normal


A moça voltara a aparecer com uma face enfeitada



Eu entendi quem era e eu me recordo de você


Quanto tempo esperou para vir me visitar


Enquanto o tempo todo meu desejo era lhe ver


Após tantos anos eu quase me esquecera do seu olhar.



De repente acordo, fico assustado, calado.


Foi tudo um sonho ou será que ainda continuo sonhando?


Percebo que a fragrância doce fora embora


Mas continuo ouvindo os seus passos lá fora.




David Edison Julião Saragosa


quinta-feira, agosto 25, 2011

"Amigos, companheiros, irmãos... Essa é pra vocês..."


Paisagem de areia



Amigo, eu te encontrei na praia hoje


O dia é mais azul quando o sol está, vermelho


Os sons daquelas notas que ressoam em meu ouvido


Trás de novo as lembranças que um dia eu vi no espelho.



O papo não nos leva a nada


E o nada é uma curva tão próxima


Que quando nos encontramos do outro lado


Está na hora de virar de novo.



Se as claras ideias não nos permitem entender


O que diriam às escuras sem um sol ao entardecer?


Nossos reflexos moldados na areia


São tão frágeis quanto um barco de papel.



O cheiro das madeiras que nos moldam


Fazem claras escuras sensações


Ao tocar num simples sussurro da vida


Recriamos a natureza morta, dando outra chance.



Um violão para resfriar a mente


Alguns acordes tão conhecidos por nós mesmos


Uma ou outra pitada de sorte


É muito mais que um simples sorriso a esmo.



Para aliviar a tensão de nem sempre nos encontrarmos


Fiz uma paisagem grandiosa de areia


E espero que as águas do mar das quais nós fugimos


Não apague o que aqui dentro me incendeia.




David Edison Julião Saragosa

quinta-feira, julho 14, 2011

"Com a aprovação da minha amiga Adaiana, resolvi colocar este texto que há muito escrevi." Abraço enorme para você...


Se amor fosse


Se sorriso fosse

Aquilo que tens guardado

Seria tão arrepiante o ver manchado

Pelas pétalas de rosa murcha

De um buquê desabrochado.


Se sorriso fosse

O que eu diria de um dia perfeito

Com a grama cortada e o sol radiante

Se ofuscado ficasse pelas doces fases da lua

Em noites açucaradas, caminhando pela rua.


Se sorriso fosse

Uma gota perfumada de orvalho

Com plantas ávidas e vermelhas

E abelhas produzindo seu mel alaranjado

E o veneno marrom que, onde toca, deixa manchado.


Se lágrima fosse

Um coração pararia de bater

Um vaga-lume pararia de voar

E um amor acabaria por envelhecer

Pois o meu riso só é sorriso com você.


David Edison Julião Saragosa

sexta-feira, março 11, 2011

"Alvorada lá no morro que beleza, ninguém chora não há tristeza, ninguém sente dissabor." O rei CARTOLA

O abrir das asas


A liberdade é a permissão desenfreada

É um ar mais puro, uma fruta mais doce.

A liberdade é passiva e aceitável

Perigosa e maleável.


Libertos do amor estão os desalmados

Libertos da raiva estão os imortais

Estamos presos à presença da liberdade

Pois nada é tão complexo, quanto os desiguais.


Libertar-se é sorrir na despedida

É não deixar abater-se diante da morte

É aplaudir quando lhe falta sorte

E, por que não, chorar ao se conquistar.


Liberdade, palavra triste.

Aos mortos libertos dessa vida

Aos moribundos em um beco sem saída

Às correntes que lhe saciam a fome.


Ninguém a possui

Todos a almejam

Muitos viram passar

Outros morrem sem provar.



David Edison Julião Saragosa

segunda-feira, janeiro 17, 2011

"Já procuraram o que é poesia em um dicionário? E viver? Procurem."

Vivo poesia


Vivo procurando a poesia

Mas de onde ela vem?

Será que estou no lugar errado?

Vivo procurando a poesia


Estando com a poesia eu viajei

Contos e fábulas eu interpretei

Com ela me despedi da terra

Estando com a poesia eu viajei


Respirando poesia estarei

Em cada pedra que escorregarei

A cada passo sem rumo

Respirando poesia estarei


Mas onde esta você poesia?

Será uma pessoa que há muito não vejo

Sinto-me presente à doce melodia

Mas onde esta você poesia?


Sinto que às vezes posso tocar a poesia

Falta-me apenas um sussurro

Mais um pequeno impulso de agonia

Sinto que às vezes posso tocar a poesia


Imploro por apenas uma luz, poesia.

Um sinal de fumaça de qualquer cor

Uma chance para provar do teu amor

Imploro por apenas uma luz.



David Edison Julião Saragosa

sábado, dezembro 04, 2010

"Mais um da série, espero que alguem esteja acompanhando..."


Estado de aflição



O encanto do desespero sussurra frio

Como um afeto para com o feto num quarto sombrio

Escoltado por cortinas tecidas com estranho fio

Afaga a alma, mas prolifera um enorme vazio.


Ao cair da noite na casa dos horrores

Escadas escondem o rufar dos tambores

Uma luz acesa no sobre piso sem cores

Atordoa até o mais frio dos senhores


O ritual começa sem a presença mais importante

A vítima parecia jovem com sua beleza estonteante

Em seu peito escorre, vermelho, uma adaga brilhante.

A oração foi feita e todos calados por um instante


O fim não chega quando estamos assustados

Nem a noite passa quando nos sentimos encurralados

A felicidade não voltará para os envolvidos

Assim como a vida não sorrirá nem falará em nossos ouvidos


Aaba chorou sangue por vários dias

Até ser levada a sala de redenção

Não ver mais o sangue, era uma de suas alegrias

Aos que foram poupados restou à aflição.


Nosso julgamento adiado por mais um ano

Nosso dever cumprido mais uma vez

Nossa tradição honrada sem ponderar

Nossa culpa imposta jamais vai acabar.


David Edison Julião Saragosa

domingo, julho 04, 2010

"Todos os pequenos homens só se tornam grandes ao partir."

Doação


Abraço o céu
Mas me fogem as estrelas
Abraço o mar
Mas me fogem os corais
Abraço a terra
Mas me fogem as paisagens
Abraço o ar
Mas o fôlego me foge
Abraço as pessoas
Mas me fogem os deuses

Cortei meus braços
Transformei-me em estrela
Cortei as minhas pernas
Transformei-me em coral
Arranquei meu coração
Transformei-o em paisagem
Arranquei meus pulmões
Transformei-os em esperança
Morri sozinho
Transformei-me em um deus.


David Edison Julião Saragosa

quinta-feira, abril 15, 2010

"Gostei tanto do que está escrito no blog do meu amigo RyAn, que resolvi escrever... Olhem o meu comentário..."

Somente com você



Eu sou dez

Consigo ser uma letra e um número natural

Eu sou a base do sistema decimal

Retiro dois e nos veremos no final.


Eu sou oito

Sou dois números primos somados

Sou apenas mais um dois ao cubo

Então retiro dois e me descubro.


Eu sou seis

Sou um número perfeito como vocês

A teoria dos seis graus de separação

Vou retirar dois e fugir da explicação.


Eu sou quatro

Sou o primeiro número composto, então vou sorrir.

Não, vou chorar, no Japão eles acham que eu dou azar.

Então para encontrar a sorte, em dois, vou me dividir.


Eu sou dois

O primeiro número primo e o único primo par

O que mais eu poderia querer?

Mas na verdade, para ser dois, eu preciso de você.



David Edison Julião Saragosa

quinta-feira, abril 08, 2010

"Sonhando acordado como meu amigo Felippy Matos..."

Acordes Julieta


Existe um lugar na cidade
Reservado aos amantes
E a todos aqueles que sonham amar
Este lugar se chama paraíso
Um paraíso que criei para poder te levar.

Hoje estou aqui, cantando.
Tentando convencer uma bela dama
De que o mundo se apresenta agora
A partir dos primeiros acordes
Muitos, na cidade, dormem.

Acorde, Julieta, veja o mundo que criei.
Estou mostrando o que demorei em criar
Estes acordes são para você
Este lugar existe e está na sua frente
Dentro do meu coração.

Agora que encontrei uma luz você poderá me ver
Olhe os sonhos mais lindos e sinta-os
Um som agradável que toca seus ouvidos
É a canção do lugar do amor
É o lugar onde me refugio para esquecer de chorar.

Julieta, não é a toa que os sinos pararam.
Já passa da meia noite e você ainda não me ouviu
As pessoas vão saindo aos poucos
Espero que não tenham uma má impressão
Nós não somos loucos.

-Suba as escadas, Romeu.
-Pare de tentar me convencer
-Estava aqui o tempo todo, te ouvindo.
-Não precisa convencer um coração
-Quando, para ti, já está sorrindo.

David Edison Julião Saragosa